-Como estão os frangos? - perguntou ao vendedor que meditava, perdido nas páginas desportivas de um jornal.
-Em pêlo, mortos, como quer que estejam? - respondeu o aludido.
Odiava frangos e não pelo sabor. Odiava-os por serem estúpidos e culpava-os por transmitirem uma doença cujo primeiro sintoma era a falta de imaginação. (...)
-São frangos frescos? São saborosos? É isso que quero saber.
O vendedor fechou o jornal, olhou para a rua e depois para o tecto da loja.
-Olhe, compadre, não sei, nem me interessa, a origem destes frangos. São todos iguais, pesam o mesmo, vêm congelados, pétreos, impassíveis. Eu descongelo-os, enfio-lhes o espeto pelo rabo, tiro-o pelo pescoço, lambuzo-os com um molho que vem num frasco de plástico e depois de quarenta minutos no grelhador transformam-se num produto comestível. Certo? Não me complique a existência."
Luis Sepúlveda - "A sombra do que fomos"
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